A esperança é a última que morre

Bem Estar

Esperança…

Ei, espera! Quero lhe falar.
Preciso contar.
Por favor leia…
Vi uma chama de vida  no buraco que liga a avenida dr. Arnaldo à Paulista.
Quem mora na cidade conhece o local, a vibração,  a escuridão, a imundice, o medo, o retrato social.
Sentada em cima de um cobertor no chão imundo, ela tinha um caco de espelho e uma pinça nas mãos.
Ela tirava a sobrancelha, pernas cruzadas, cabelo preso por uma faixa colorida e estreita, presa à cabeça como uma tiara.
Alimentava a sua autoestima, a latente sede por beleza, a fome de vida e de felicidade.

Talvez ela nem se ligue se Bolsonaro cai ou fica.
Talvez só tenha desejos.

Tá lá, no buraco e no escuro, em meio a sujeira e a desordem.
Mas na nossa bandeira a mensagem: ORDEM E PROGRESSO.
Quem sabe a faixa com as letras da bandeira não estava na cabeça da mulher.
Não sei.
Há muito que as letras em meio ao verde e amarelo desapareceram dali.
Alguém as roubou.

“Vida, vida, vida – Que seja do jeito que for”

Mas a mulher embaixo do viaduto insiste pela vida e se arruma, tira a sobrancelha em meio ao caos.
Para quem se faz bonita?
Para ela própria, um homem, quem sabe outra mulher.
Eu não sei, contudo vi que não estava sozinha.
Zumbis ocupavam também o espaço.  Muitos, tantos, que nem pude contar.
Barracas, lixo, embalagens de isopor de marmitas, que anjos da noite distribuem.
Sujeira, desordem, escuridão.
De quem é a culpa?

A maioria passa alheia, não enxerga, mas sente.
A princípio, todos que por ali passam sentem medo.
De que?
De quem?
Um homem preto fumava um cachimbo de crack, outro ria e mais outro olhava, mas nada via.
E eu? Sentada no banco do ônibus,  como todas as manhãs,  a caminho do trabalho.
Trabalho que mais de 14 milhões de brasileiros não têm.
Mas sonham.
Ainda buscam.

Esperança

A mulher tirava a sobrancelha.
Ela tinha ainda alguma esperança.

Talvez a tenha guardado em um cofre secreto em meio a desordem e confusão…

Também pode ser que a esperança tenha se grudado tal qual um chiclete e ela nem se apercebeu disso. Apenas desejou e então a recebeu como um prêmio da loteria.

Mas como tudo é possível nessa vida tão louca, ou ela foi contemplada por Deus ou algum anjo desavisado a brindou com o tesouro da esperança.

A verdade sobre o caso jamais saberemos, já que talvez nunca mais a encontre novamente e portanto, sem possibilidade de perguntar-lhe.

A escrita deste post está alinhada com tudo o que sinto e vejo, como uma forma de protesto.

Mas se deseja saber, está na forma de conteúdo SEO, provando que a ferramenta cabe em qualquer texto.

2 comentários “A esperança é a última que morre

  1. Achei texto super bem bolado.Conseguiu passar tanto o protesto da escritora como a situação real q a gente vê na nossa cidade. Com tudo isso destacou a moça q quer ficar mais linda no meio do cão , e isso q da pra gente a esperança que apesar de tudo n podemos perder!! Parabéns!!

  2. Difícil e triste momento esse, Flávia … reflexão que vale a pena. Seguimos caminhando… nos resta a Esperança?
    Em pequenas doses diárias vamos oferecendo a mão. O gesto. O olhar. A palavra… Compaixão é preciso! Imenso abraço, querida. ❤

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